quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

dessignificancias


para fernando pessoa, amem.

tenho muito a dizer a você, mas nada disso significa. que hoje, enfim, percebi que temos dizeres muito alheios um ao outro e que nossas sílabas não se encontram e não se unem nem hoje nem sempre. mesmo que as idéias continuem as mesmas e eu saiba profundamente que nos seus olhos esteja escrito tudo o que eu gostaria de dizer. nem assin. que tu não me mostras as letras enterradas nas suas retinas. além das palavras por vezes contrangidas que trocamos no corredor da biblioteca, na hora mesma que desejo verte e tu apareces com a tua cara, nada de luminoso. penso que foges de mim, mas te busco e te encontro entao dentro do meu desejo. diria assin, com temida superioridade: te conheço como ninguém, porque sei da sua fraqueza. mas realizo que tu não vês porque sabes que doeria. e sei que não gosta dessas dolores. então silencia. e seu silêncio para mim é um náufrago. onde me deleito e me encerro no não que mostra e no sim que aparenta. não dizes nada. e seu silêncio deixame suspensa. a casa caiu e há escombros dela. ainda assin, vejo alguém pendurado na escada. balançate mórbido, escorregadio, os olhos caídos. passo assin à sua volta e, repentinamente, mas sem surpresas, olho pra voce e é o meu rosto que vejo. talvez o coração antes arrancado do peito, mas sem sangue. e na barriga o seu filho morto. todo o cuidado e amor e espera sistematicamente sugados por esse ente que acho até que sejas tu, mas que desejo muito mesmo que esteja apenas ocupandote temporariamente a cabeça. mas escrevo e sintome igualmente fraca. que tudo isso que sai de mim são sentimentalidades que me sufocam e me completam de uma forma que não significo. dentro dessa escuridão há todas as letras, fragmentos de doces dizeres e repetidas declarações. que ouves e calas. diante da escuridão que invoco, não imaginavas como? também não saberia dizer nada se em mim todas as sílabas estivessem cortadas.

continue..

..

li



ainda non reli.
talvez.me faltou um tanto de atensson momentaneo.massive attack me acompanhava.esse sombrear de um pesadelo foi massivo.foi ton ataque.
como toneladas de sementes de uma flor de cor impossivel a ser produzida pela natureza de fora alem do corpo humano.
e dali,do viril,surgiu uma negra rosa(por q uma rosa non pode ser negra,sendo ela rosa,cor-de-rosa?).negra rosa eh a calcinha q eu queria usar.
onde non mancharia de sangua minha non mais virgem pontualidade de produzir fluidos de desejos contidos.
mas um desgue de orgasmo.um orgasmo entendido.
ou cantos subliminares em coro no fondo do seu sonho.q non pude atingir.
ou estive la sem saber.ja q me esta sendo dificil lembrar deles.talvez seja o cheiro.talvez seja o chon q non me sustenta.insisti em non mais viver na realidade.tomei por prol todos os suportes por mais limitados q me possam ser.e extravazar a capacidade do manuseio puro das maos e qualquer suporte.ou o teclado da japolandia non me incita a ter um dialogo proprio adaptativo?
ou eu ja non me esqueci de toda e qualquer lingugem comum de termos eretos de contato nitido?

talvez-talvez eu queira colorir o meu mondo,como so eu e mais quem quiser participar podermos colorir.
e nele fazer tra-la-la juntos.
tudo me aprece ton fechado...q abrir ja eh mais simples do q ainda pensar em abri-lo.

amarelo.manga.veron.manga eh caro.enton como manga.chupo banana...me visto amarelo nos olhos e na pele.e puxo a reflexon afora como eu decidir.eu posso...e pq non poderia?
por q alguem ve e diz q o q me eh non eh pq ela ve?
e precisa ver?...
se nos sonhos voce sente?...as cores,transporem qualquer sentido.

muamua.

Amavisse


Como se te perdesse, assim te quero.

Como se não te visse (favas douradas

Sob um amarelo) assim te apreendo brusco

Inamovível, e te respiro inteiro



Um arco-íris de ar em águas profundas.



Como se tudo o mais me permitisses,

A mim me fotografo nuns portões de ferro

Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima

No dissoluto de toda despedida.



Como se te perdesse nos trens, nas estações

Ou contornando um círculo de águas

Removente ave, assim te somo a mim:

De redes e de anseios inundada.



Hilda Hilst


www.angelfire.com/ri/casadosol

ft: então/marcos leandro

Das estrelas pela janela


Ao Caio, eternamente Fernando, e ao Branco dos meus olhos

Da noite

Ontem a surpreendi sorrindo eternamente. É certo que ele estava ao seu lado, - pois tudo já estava assim tão morno e calmo - estavam de mãos dadas e - porque estavam sempre juntos nesses momentos leves e graciosos - deitados na cama. Fitavam a tarde que se esvaía pela janela, e aguardavam a chegada da noite. O dia todo a tão esperada noite negra azul marinho a silhueta dos galhos da grande árvore de folhas pequeninas as miúdas luzes começando a piscar os sons do inesperado que agora cantava mais alto, e suas mãos dadas: eternamente. A noite era todo o mundo ao seu redor.
As noites assim azuis pareciam um livro para histórias de amor.

Da árvore

A árvore era sempre a primeira gigante que avistava quando ia se deitar. Única no inteiro do céu, entre os limites da madeira velha e já quase nua pela tinta branca descascando nas arestas da janela. Os braços da árvore, a árvore balançando, as pequenas folhas da árvore. Sem querer, errando pelos seus galhos, às vezes se achava confundida com a árvore, balançando lentamente os seus finos braços ao vento, lenta e tristemente, fria e lentamente.

Das estrelas

Sua luz confusa, brilhando e apagando, como das vezes que se sentia repentinamente tomada por enxurradas de alegria, incontidas, eufóricas, devastadoras, que subiam levando consigo os pelinhos do braço um quentume pelas veias do pescoço a cara erguida aos céus o coração quase explodindo meu deus! e, de repente, queda em abismo eterna melancolia faróis apagados longes lá longe sem conseguir mais alcançar. Quase os olhos parados do cão feliz. Para onde viajavam? Partiram? Secaram? Murcharam? A boca cerrada e o queixo ereto sobre as patas cruzadas, o ouvido tapado de um jeito que não escutava mais, e um buraco nos olhos: perturbador. Mas aí alguém sem querer chutava uma garrafa de coca por vezes largada no quintal e então alguns sininhos trimilicavam lá dentro de suas grandes compridas orelhas de cão e embalavam os saltos quase em câmara lenta de seu grande corpo desengonçado e então ele renascia, para morrer novamente alguns minutos mais tarde. As estrelas também morriam e voltavam a viver, e às vezes se escondiam, ou se iam apagando até quase morrerem novamente. Ela procurava-as assim, até erguendo o pescoço, como se quisesse entrar no dentro da tela azul marinho, e mergulhasse na escuridão do céu noturno.

Dos gnomos

Embriagada, penetrava o escuro da noite escura. Olhar fixo lendo os mínimos sinais no pedaço do céu que era só seu. E então, como se já não fosse tudo belo e suficiente, havia aqueles sons, suaves melodias de xilofones que estava sempre a escutar nessas horas. Dificilmente se mostravam, para sempre repentinos, subitamente aparecidos, mas sabia que eram gnomos a encantar a noite lá fora. Quando iam-se embora, ou não conseguia escutá-los, ou quando os espantava sem saber, era hora de libertar do grande auto-falante aqueles sons de vozes de lá longe, onde nem saberia apontar, e de assisti-los bailando pelo ar “...clareia minha vida, amor, no olhar...”(1) Ah! Os olhos. Olhos às vezes azuis azuis, outras vezes esverdeados, e tantas vezes cinzas cinzentos e tristes olhos. Gostava do triste de seus olhos, mas achava que preferia das vezes que eram verde-azulados, ou azul-esverdeados. Gostava de vê-los, enfim, brilhantes.
Água límpida e cristalina de riacho.

Dos vaga-lumes

Se, então, olhasse bem, mas sem precisar comprimir os olhos e enrugar as marcas da testa, se olhasse bem profunda e silenciosamente, certamente conseguiria alcançar os pequeninos donos das belas vozes da noite, que surgiam a brilhar, iluminando-a. Era como daquelas vezes, quando piscava longamente os olhos e, mantendo-os por segundos fechados, imaginava a próxima cena: levando os personagens para fora, ou a sorrirem languidamente, ou a chorarem desesperadamente, ou a encontrarem qualquer amigo que há muito não viam, ou a voarem conforme o vento dissesse, ou – e de repente, abertos os olhos, perceber que eles tinham apenas caminhado uns poucos passos adiante. Seus olhos procuravam aflitos, tentando apostar onde é que apareceriam, segundos mais tarde, aquelas luzinhas. E de repente, lá estavam, quase indo-se pelos galhos mais altos da árvore, lá em cima, quando as tinha imaginado cá embaixo, perto já dos seus dedos querendo agarra-las para saber do que afinal eram feitas.

Da chuva

Mas havia dias que chovia, e então ela precisava esperar até tarde para vê-los todos, depois que o céu já tivesse suas cortinas abertas e as nuvens alaranjadas já tivessem ido embora. Eram sempre imprevistas as sensações das noites de chuva. Serenas e aconchegantes, porque lavadas e renovadas - todas as casas, ruas, gentes, ânimos - e enchidas de outros ventos, e porque dessas vezes estava suspensa no ar a certeza de que o céu não tardaria a brilhar novamente. Angustiantes e vazias, porque frias e eternamente em falta.Tempos de compridas esperas, quando as estrelas do céu ficavam encobertas por muitos e longos tempos doídos, e mudos.

Do vento

Dessas vezes, os cabelos voando ao som do vento, leve aceitação, de coisa que não pode nunca ser mudada, era hora de pedir silenciosa, que fosse contar ao Branco, que lhe contasse “vai lá e conta pra ele” que eu estou esperando ele sempre sempre, pra sempre, e que os dias estão escuros noite inteira e que eu tento buscá-lo mas ele está mais longe tão longe e mesmo assim,

Dos sonhos

“eu continuo pensando coisas boas pra você”.
Deitada na cama a olhar para o céu sem estrelas, só depois entendia que a luz que então procurava era, enfim, o ponto onde se encontravam seus olhares, nós estendidos no largo espaço do céu, pedaço de terra segura, terra firme, por mais longe estivessem, onde sabia alcança-lo, porque algo dizia que de lá ele tinha também seus olhos submersos nessa dimensão onde ninguém mais se perdia. Não estando lá, não podendo ser alcançadas luz expandida no escuro da noite, deitada no vazio do céu, as estrelas precisavam ser transportadas, encurraladas na vastidão das lembranças já mornas de todos os dias, e embriagadas em belos sonhos de dormir. Então entendia que não havia mais nada no céu “irreconhecível me procuro lenta nos teus escuros...”(2) e que hoje tudo só poderia ser breu. Achava assim que poderia ser hora de ir dormir, pois o vento era fresco pela janela, e o som era calmo na noite calma. E, como a casa inteira dormia, talvez fosse a hora de abraçá-los todos com muito carinho, e desejar-lhes uma boa noite, a eles e ao mundo, uma boa noite de sonhos contentes de pessoas se encontrando e vivendo sensações novas e imprevistas. Era bom sentir tudo isso em suspensão todas as noites antes de dormir. Por isso pensava as melhores histórias nessa hora, e achava sempre que os sonhos seriam o final que não tinha conseguido escrever antes de deixar-se levar pelo sono bom desses dias chuvosos.

Da Lua

Mas às vezes ela era toda lua, porque saudosa do Sol, brilhante entidade iluminada, iluminante. Quando a lua se aproximava, ela corria pedir pras estrelas irem contar pro Sol, que lhe contassem que ela o esperava, e que o amava de um jeito que não conseguia alcançar. Porque tinha medo da lua. Na realidade, acho que tinha medo de si mesma, Lua. Lua pálida, vazia. Lua eternamente à espera. Lua sempre, e apesar do céu e estrelas, sempre só. Então evitava olhar-se no espelho. Evitava afundar-se na sua penumbra, e descobrir-se. Mas era pega sempre de surpresa, porque se andava distraída então, e a lua deu por aparecer ainda bem cedo por essas bandas. Mal o relógio apontava as seis, e lá estava ela, indiscreta, seguindo-a com seus olhos parados e profundos.
Diziam que São Jorge Guerreiro morava lá dentro, e junto com o Dragão! Mas não acreditava, porque assim a lua tinha que ser bem vermelha, porque assim era o Velho Ogum de Ronda Ogum Sete Ondas Ogum Iara, cavalo correndo, espada reluzindo, e porque não acreditava que eles pudessem viver assim, tudo branco e na santa paz. Acho que foi por isso que outro dia a surpreendi fitando longamente a lua. Talvez tentasse enxergar qualquer duelo sangrento que viesse a tingi-la inteira de vermelho. E então as noites seriam mais candentes ainda, porque a gira da paixão, rodopiando em seu vestido vermelho, percorreria livre[mente os corredores das sensações aprisionadas? Na realidade, não foi essa a única vez que a tinha surpreendido assim, de olhos pregados lá no alto. Acho até que gostasse, lá no fundo, de perder-se nos olhos calcinados da Lua, e que, enfim, tinha piedade. Afinal, não eram assim irmãs gêmeas, desmoronadas, caindo-se de amores pela estrela maior brilhante leão iluminado amarelo fogo clarificado chama ouro aceso intenso queimadura, enfim, Sol.

Dos passos pela rua até as estrelas pela janela

Era noite alta quando a avistei andando com ar distante no meio da rua. Levantou seus olhos como que percebendo meus passos, levantou os olhos como que me reconhecendo, mas, me olhando, sequer me viu. Não se afetou, e nem mesmo reduziu o passo, como uma promessa, tão logo se perdendo na névoa cinzenta da noite. Tão inesperadamente branca dentro de seu paletó, tão opaca dentro da sua solidão, passos curtos, mas levemente pesados. A sua leveza ali em prantos. Fácil perceber o choro engolido pelos seus verdes olhos, profundos como um daqueles poços onde caíram seus muitos sonhos inconclusos. Voltava para casa, cansada já dos poucos minutos que tinha estado naquele furdunço: milhares de pessoas anônimas reunidas sob o pretexto da festa. Sentia que não celebravam mais nada, a não ser a sua suposta liberdade de poder se encher de viagens e dormir quando o sol já tivesse chegado. Acho que ela está cada vez mais lúcida. Terrivelmente lúcida, em verdade. Faz um tempo a vi correndo e chorando no meio da noite. E desde então, nunca mais soube de um riso daqueles cintilantes seu.
Mas me contaram tê-la visto a andar rindo lindamente pela rua, como se estivesse ouvindo uma daquelas histórias encantadas que sempre a fizeram tão feliz. Disseram que seus olhos brilhavam muito, e imaginei que fosse assim como das vezes que era criança, e brincava com os peixinhos no céu do quarto. Mas depois falaram que parecia chapada. E como vi aquele branco calado com quem estava andando ultimamente sentado na porta de casa olhando para o nada, um pouco depois de tê-la surpreendido a correr em prantos (...)
Tinha os visto pelas calçadas da cidade num dia ensolarado há algum tempo. Não consigo me lembrar exatamente dele, porque tive meus sentidos inundados pelo do semblante dela. Estava bela como nunca fora, e alva como jamais havia sido. Os olhos mais verdes, a boca mais vermelha, as bochechas coloridas, os cabelos bem, por vezes mais sedosos, as unhas cuidadas. Só depois realizei que era ele o grande culpado pelo seu desenterro “...Lá fora, amor, uma rosa nasceu, nosso barco partiu, uma estrela caiu...” (3). Então havia pulado a janela e agarrado o tempo que passava levando com ele a vida inteira, olhos ainda cheios de lágrimas, mas dizendo um sim ainda sem muita certeza, de qualquer forma estranhamente sentindo que talvez fosse ele: “Foram precisos muitos acasos, muitas coincidências surpreendentes (e talvez muitas procuras), para eu encontrar a imagem que, entre mil, convém ao meu desejo. Eis um grande enigma do qual não tenho a solução: por que desejo Esse? Por que o desejo por tanto tempo, languidamente?...”(4) Ela também nem se apercebeu de quando aconteceu, e até tentou impedir, mas em pouco já estava completamente perdida no claro dos olhos do Branco, profundos e calmos como nunca tinha visto. “... Que porção, talvez incrivelmente pequena, que acidente? O corte de uma unha, um dente um pouquinho quebrado obliquamente, uma mecha, uma maneira de fumar afastando os dedos para falar? (... seu semblante tão suavemente adormecido mas ainda assim suficiente e elevado, o azul cor de céu dos olhos que acabavam de acordar, o jeito de morder a boca dizendo que queria, o cabelinho da sabedoria plantado na orelha direita, o ombros arqueados quando estava um tanto sem jeito, as milhares de idéias pintadas no olhar, todos os sambas e histórias, todas a falas convictas e autênticas na voz às vezes morna às vezes seca às vezes escorregadia ...?) De todos esses relevos do corpo tenho vontade de dizer que são adoráveis. Adorável quer dizer: este é meu desejo, tanto que único: (...).”(5)
Os dias, então, foram sempre de sol, por mais torrencial a chuva que caísse. Dia e noite: claro brilhante de sol, morno aconchegante de sol, quente ardente de sol. Em seus braços, Sol. Totalmente subvertidos, Lua e Sol. Noites girando em torno de si mesmas. Eterno eclipse.
Assim: projetos cotidianos de vidas longas compartilhadas crianças correndo pela sala esforços somados para a felicidade de dias coloridos e cheios de riso incontido. Sutis tímidas imprecisas declarações de amor, escondidas nos olhares furtivos, na mão que se segura uma à outra, na cumplicidade das revelações. Os olhos de um, os olhos do outro.
Então: como se fosse uma daquelas estrelas, assim mesmo repentinamente, ele parou de brilhar, numa fração de segundo incapturável. Vaga-lume que pisca e nunca mais volta à luz. Cão feliz eternamente envenenado. E o Sol foi se pondo, opaco e triste, como nunca havia sequer imaginado que pudesse ser, apesar do cinza com o qual vinha se colorindo. A cabeça girando, milhões de idéias. “... Tudo para o gigante parece pequeno. Todas essas pequenas enfermidades, esses pequenos ridículos...” (6) Parado diante da superficialidade, do domínio do ego, da gratuidade da defesa e da ofensa galopantes, e sentindo um grande peso, a vida cada vez mais doída “... e de lá de outra óptica... só de lá para se dizer” (7): o Sol aos poucos voltando à sua órbita.
Silêncio cerrado Olhos que se desviam Medo de encostar Longos compridos tristes abraços. Idéias que se perdem no dentro do ontem, do hoje, do amanhã. E a Lua estremecendo de frio. Longes, lá longe, se perdendo novamente dentro do breu da noite.
E mesmo quando surpreendidos pela mais surpreendente das casualidades: eternos anjos caídos, caiados, entristecidos. Como antes na canção, “não sei se é melhor pra mim você aqui” (8): não estava bem para ficar com ninguém agora. À sua frente, duas mãos abertas, trêmulas, lhe oferecendo seu coração arrancado do peito de repente, e sangrando. Mesmo assim. Olhando no fundo dos seus olhos, como se quisesse encontrar algum mínimo sinal, um rastro de sim escondido lá no dentro, lá no denso, ou uma daquelas luzinhas que acendiam sem querer quando menos esperava, sem que sequer lhe pedisse, e que crescia crescia até quase se queimarem um no outro. Mas não viu nada, eterno abismo dentro das lentes de vidro que se tornaram o claro dos seus belos olhos cor de água límpida e cristalina de riacho.

No dia que ele apareceu, depois, bem depois, e entenderam que não poderiam mais falar sobre o que ia de verdade, e conversaram constrangidamente sobre o que poderiam dizer, e quando ele resolveu, enfim, que era hora de ir embora, e quando ela disse que se ele quisesse voltar, e se quisesse aparecer, e se quisesse vir almoçar qualquer dia desses, como se aqueles fossem ainda os velhos tempos, e ele disse que se pá, que talvez, que tinha ainda que, mas se der, e ela realizou que aqueles não eram mais os velhos e bons tempos, e que os abraços nunca mais seriam compridos como daqueles de antes, e disse então que “eu não te espero mais!”, assim mesmo, com exclamação no final, e com um olhar estranhamente sóbrio e convicto que ela mesmo, na hora e tempos e tempos depois, estranhou porque, pensando bem, nunca tinha pensado aquilo antes. Achou difícil como tirar um espinho do dedo do pé, e depois se arrepender porque daquele jeito estava um tanto melhor. Doía muito entender que, mesmo levemente transcorridos, os dias eram vazios como nunca foram, apesar das milhares de pessoas da sua vida. Se deixasse esquecer, “Para que não ter por ti desprezo? Porque não perdê-lo?... Ah, deixa que eu te ignore...”(9), sempre, mesmo assim, ele estaria ali, como uma remota passagem, que quase se confundia com um sonho cheio de nuvens que tivesse tido em uma noite de chuva qualquer.
Realizou, então, que não poderia apagá-lo. Não poderia amarrá-lo sacrificá-lo degolá-lo e jogá-lo fora para sempre, porque sempre brilho, “The world forgetting, by the world forgot. Eternal sunshine of the spotless mind!” (10). Assim sendo, decidiu que o melhor seria carregá-lo consigo para os momentos mais felizes de sua vida. Até porque, ele não acreditava, mas amava a sua companhia! Passou, então, a redescobrí-lo escondido nas pequenas alegrias de todos os dias, que assim estariam sempre juntos, redesenhados. E aqueles passaram a ser os sorrisos mais vivos e brilhantes que já deu.
E, mesmo sabendo que havia muitas lembranças de sol também, era da noite que mais gostava, porque era à noite mesmo que mais se fundiam um no outro, e porque desde sempre, aquela era a melhor hora de todas. Sua voz cheiro olhos, e seu toque, sua intensa máscula digna forte branca ereta presença. Estava sempre roçando nos pelinhos loiros de seu braço cheio de veias quando se deitavam na cama à espera das estrelas da noite do céu. Claro esguio suave, daquele jeito mesmo dos sonhos de todas as noites, de quando não se lembrava, mas que pareciam agora tão íntimos, e próximos, tão esquecidamente reais que poderia dizer que já tinham sido todos aqui na vida, um eterno dejavú, sempre sensação de ter pegadosentidoouvidovisitado.
Os dias eram vazios porque continham tudo aquilo projetado e só faltava ele. Ele de carne. Ele de osso. Ele e suas belas idéias. Ele e sua inabalável convicção. Ele branco, ele quente, ele inteiro, ele perfeitamente encaixado no meu tosco, mas tantas vezes redesenhado esboço, às vezes morno, às vezes frio, e às vezes – meu deus! – enluquecida-insuportável-atormentadamente febril pulsante ardente as pernas se esfregando lentamente os pêlos se confundindo eretos as mãos peregrinando as partes há tempos esquecidas do corpo o abismo do quarto os quadris os dedos os mamilos tensos tensos, e quentes. Tudo em fogo debaixo do cobertor acéfalo e morto e frio e infinitamente distante da sua pele em chamas. Dessas vezes era ruim de sentir, e ela gemia ela chorava e clamava ofegante lágrimas confundidas o coração batendo acelerado angústia furando o peito, e ela se contorcendo em dor .........................................“um antídoto para a solidão!” e chorava chorava chorava até então dormir, porque os anjos vinham e balançavam-na em seus braços e a levavam para longe. Às vezes tinha sonhos de voar. Às vezes sonhos de chorar e soluçar. Às vezes sonhava de dia, já acordada. E tinha pesadelos acordada também. Então chamava desesperadamente os anjos para que eles viessem buscá-la, e que a balançassem até que dormisse. Os dias pareciam não passar, a noite e sua penumbra. Engasgada, o disco furado o céu cheio de nuvens, nenhuma estrela. Quase morria nesses dias. Olhos caídos no chão, fundos, e ela perambulando pelas ruas da noite. Quem a visse assim, acharia certamente que era assombração, tão transparente em sua dor.
Mas as lembranças, essas continuavam lá, e ela não poderia livrar-se delas porque não quis se livrar das boas. Então repetia sempre para si mesma que o que foi ruim não apaga o que foi bom, não apaga, não apaga. Deixa ele suspenso, pendurado na escada, balançando em vai e vem, pra sempre assim, até que derrubem de vez a casa, e o levem consigo, sufocado em seus destroços. Mas às vezes elas voavam. As angústias vinham cá pra cima e ficavam acordando as várias tristes lembranças de sempre, por vezes pensadas, e por vezes jogadas fora. Não quero mais pensar Não NÃO!!! NÃÃÃÃOOOO........ a negação de sempre, autopiedadefilhadaputadesempredódódódód´dod´dod´dod´dod dooooooííííí
Como o espinho que tivesse deixado e foi ficando e ficando e ficando pra sempre lá dentro até virar-se uma grande ferida cheia de pus branco viscoso misturado com sangue desejo paixão “funestaapariçãominhalmadefinhoucaninaassombraçãouotrastequehojesou”(11) chorachorachoraqueridadeixachorar........................................................................
morangos mofados engolidos a seco sem água sem leite sem saliva sem fluído sem nada nada de líquido a não ser pus de ferida que nunca fecha.
Mas esse era apenas o pesadelo.

* Por Carolina Monteiro, jornalista e membro da Incubadora de Cooperativas Populares Unesp/Bauru.

Notas:
(1)em “pois é”, de quatro, los hermanos, 2005;
(2)em “da morte”, de odes mínimas, hilda hilst;
(3)em “carolina”, de chico buarque;
(4)em “adorável”, de fragmentos de um discurso amoroso, roland barthes, francisco alves, 2001;
(5)em “adorável”, de fragmentos de um discurso amoroso, roland barthes, francisco alves, 2001;
(6)em “gigantes”, de leandro monteiro;
(7)em “gigantes”, de leandro monteiro;
(8)de josé ulpiano del piccia, drukes, 2004;
(9)em “hora absurda”, de ficções do interlúdio, fernando pessoa, cia da letras, 1998;
(10) em “eloisa to abelard”, de alexander pope;
(11) em “caindo em si”, de o outro mundo de manuela rosário, mundo livre sa, 2005;






www.cronopios.com.br _ junho/2006

ft: sereia/marcos leandro

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

o cotidiano humano e chute


tilla_guigui_www.livrosdomal.org

A paz do grito



Estamos em guerra? Estamos em guerra. Sempre estivemos? Sempre estivemos. Quem somos nesse tabuleiro de relações pré-construídas? A bandeira que tremula na bula de nossos olhos é uma revolução ou uma reafirmação do que está?

Quero falar de guerrilha. De cultura. De resistência e de arte.

Quero mover os nós que atam esse pacote do nosso tempo. Desatar suas correias de compreensões duvidosas. Caixa de pandora. Caixa preta de avião terrorista. Caixa de surpresa de onde se espera que salte um arlequim, um pop star momentâneo – instantâneo como o leite ninho, que faz por você o que nenhum outro faz; um anjodemônio que possui aparelhos de tv com telas planas de plasma sem sangue no lugar dos olhos.

Por que guerrilha? Por que cultura? Por que resistência e arte?

Agora tudo é guerrilha cultural. Todo aquele que deseja atrair para si o olhar carente de força da juventude (é estranho que essa palavra – juventude – me pareça tão velha nesses tempos!), se apresenta como um guerrilheiro cultural. Mas onde é que está a juventude revolucionária desse momento? Caminho pelas ruas e pelos shoppings. Absorvo os transgênicos fastfood comportados e felizes. Danço entre os meus pares – que eu só sei meus pares pela cor de seus movimentos. Onde estão os que se rebelam?

Para se rebelar é preciso saber que se é oprimido. Cercar o inimigo com um olhar de alteridade. Ter força e vontade para agir. Precisar agir. Compreender o giro das coisas desse tempo escorregadio. Houve mesmo esse tempo em que a lança do amotinado tinha um alvo claro: o peito do monarca absoluto. O poder era tão nítido quanto as pedras de um castelo medieval. O mítico, o profano e o santo tinham, cada qual, sua caverna. Agora. Hoje. O mítico, o profano e o santo coabitam a mesma caverna. Uma tecnocaverna. Onde está o rei? Onde está a lança? Onde está o alvo? Quem se amotina?

Em outro momento, numa fala sobre ‘imagens subversivas’, em 2001, na ‘Semana dos Malditos’ – na Universidade Estadual do Ceará UECE, falei que um inimigo possível seria a ‘Sociedade do Espetáculo’, com suas formas de controle coletivo e seus circos eletrônicos-sensualistas de alienação. Disse que o território último onde se daria essa batalha seria o corpo. O alvo, a idéia-resgate da identidade e que uma das armas seria a arte contemporânea. Mas me faltou compreender - com toda a radicalidade necessária às grandes compreensões – quem seriam os amotinados. Personalidades pop virtuais como Luther Blisset ou reinauguradores de grupos subversivos dos anos 60, como o Provos, renascido nesse momento como metaprovos?.

Embora reconheça o valor das iniciativas que tem como propósito reeditar ações de grupos subversivos históricos, não estou bem certo se o fato da pergunta ‘parecer a mesma’ repetir ‘uma resposta’ anterior seja o caminho mais visceral e válido. Em vários lugares do mundo, muitas pessoas estão criando grupos-citações de grupos famosos, como o Provos (da Amsterdã alucinada ainda e sempre), por exemplo. Até mesmo o instigante filme manifesto de David Fincher, O Clube da Luta, deu origem a grupos – inclusive no Brasil – que se apresentavam como ‘Projeto Caos’, pessoas assinando textos com a alcunha de Tyler Durden, repetindo hipnoticamente os textos dos filme. Atitudes como essas revelam uma nítida estreiteza da compreensão da obra e uma manifesta evidência de uma rasa capacidade de construção do novo. Não é gratuita, no Clube da Luta, a involução das iniciativas libertárias do alter-ego Tyler Durden para o modelo terrorrista-fascista ditado pelos princípios do seu Projeto Caos. O que era busca da natureza dionisíaca, daimônica, libertária, vira anulação de identidade paramilitar: uma aberração complementar à anulação do eu pelo consumismo. Pérola de ironia, esse filme.

Até que ponto o firme engajamento em atividades artivistas nos distancia do propósito mesmo de conquistarmos a liberdade reivindicada?. Para que queremos mais liberdade? O que faríamos se a tivéssemos agora, nesse momento? Será que a liberdade é algo que se decrete? Como é possível libertar? O que temos subjugado dentro de nós que se quer livre? Cultiva-se a liberdade dentro ou fora? Saber-se livre seria o primeiro passo? A liberdade é contagiosa como o riso, como o bocejo, como o desejo de beijar diante do beijo do outro?

Essas questões são fascinantes e necessárias, para se manter a mutabilidade dos nortes conquistados.

O inimigo transita entre o fluído e nômade, entre o emperdenido e o sedentário. A capacidade de cooptar as forças opositoras, projetando sobre elas uma notoridade inicialmente indesejada é extraordinária. É preciso se apropriar das armas do inimigo para usá-las contra ele, tal como descrito no ‘mini-manual do guerrilheiro urbano’ do mariguela. A diferença é que as armas não são mais a sub-metralhadoras, os coquetéis molotov, as granadas e os fuzis FAL. As armas do inimigo são a informação – o trânsito das palavras de ordem, o controle dos meios eletrônicos de distribuição dessas informações, empunhadas pelos legitimadores do discurso oficial: os ideólogos do consumo e de uma globalização para globalizadores, sobre globalizados. A mitificação das grandes marcas, reconhecidas como portos constantes em meio ao movediço cenário da macro economia assassina. Países podem desaparecer. O mac Donald´s sempre será o mesmo. O discurso do inimigo é o discurso da morte. Entendida aqui como aniquilação da identidade diante da gosma homogenia devoradora de individulidade.

As armas da guerrilha são então a contra-informação; a democratização dos meios eletrônicos de distribuição dessa contra-informação; o resgate e releitura dos meios não-eletrônicos de distribuição de contra-informação; a desconstrução dos legitimadores do discurso oficial (convoquemos o arlequim para esse front!), os processos de deturnamento de peças publicitárias – como fazem os congestionadores culturais como o adbusters. E, sim, ela aqui de volta: a arte contemporânea. O grito que liberta a experiência artística da prisão de uma compreensão pré-determinada. A maior parte das obras de arte comtemporânea estão mais preocupas com o processo do que com o controle sobre o resultado.

Armas todas empunhadas como anti-armas. Pois, ao contrário das bélicas possibilidades, as anti-armas matam a morte.

As anti-armas estão mais interessadas na distensão do tempo. Na ampliação do espaço-tempo. Ao contrário da velocidade mortificadora dos meios tradicionais, onde tudo exala uma vida intensa e curta, onde tudo é descartável, os meios de resistência preferem a consistência da experiência. Arriscam resgatar valores e compreensões de mundo. Negam a morte. Vencer a morte é o mais radical ato de resistência.

Onde entra a cultura e a arte ativista nesse processo?

Cultura é identidade.

Quando nos deixamos vencer pela chamada ‘cultura oficial’, formada com a intenção de controlar e homogeneizar, reduzindo a homem a um dígito de caça e consumo apropriadamente chamado de target (ou público-alvo) é como se rejeitássemos a relação com nosso entorno, com nossa história pessoal, com os risos, lágrimas e gritos de nossos antepassados. É uma forma de deletarmos nosso desejo de rompermos cercas, explorarmos o destino das derivas e da maravilhosa experiência da descoberta e do espanto. Da dor e do prazer. Da nossa própria humanidade. Paradoxos de individualização são gerados a todo momento: quantas vezes já fomos bombardeados pela parte menos inteligente da publicidade que promete exclusividade através da aquisição de bens de consumo?. Ter o que poucos podem ter é um parco anestésico para a crise de identidade que assola nossos tempos kafkanianos. Já o antecipava, Marx, no seu ‘fetichismo e mercadoria’.

A arte gera contra-informação. A arte tem um substrato valioso: cultura. Cultura contamina. Contaminado por cultura o homem só dirá ‘sim’ àquilo que reconhecer como sendo parte desse seu novo multi-universo de compreensão. Concordo com Deleuze quando ele aponta que toda a arte é um ato de resistência. Todo ato de resistência é revolucionário. Ora, como disse o poeta da Revolução Russa, Maiakowski: "Não há arte revolucionária sem forma revolucionária", o que pressupõe um novo formato. Uma nova lógica de oposição. Hoje percebemos que a revolução mais eficaz não se dá através de uma síntese ativa de um único embate hercúleo e possante contra o opressor. Com o pensador Hakim Bey, nos anos 80, descobrimos que o ‘levante’ é mais eficaz que a guerra. É como diluir a ação revolucionária no espaço-tempo. Uma ação elástica, distendida, pontuada por pequenas ações, distribuídas por muito, muito tempo. Minando progressivamente as resistências, oferecendo momentos libertários onde se pode viver plenamente a própria originalidade. Contaminação lenta. Sem dar tempo para uma contra-ofensiva. Hakim Bey chama esses levantes de TAZ – sigla de zonas autônomas temporárias. Hoje chamamos esses eventos de ações de Mídia Tática. Falarei sobre Mídia Tática outro dia. É um assunto vasto, merece um tratamento mais elucidativo. Por hora, voltemos para nosso front.

Guerrilha é ”morder e correr”. Guerrilha cultural é contaminação libertária por exposição significativa, pontual, transitória e impactante de atos de resistência.

Muitos defendem que essa ação se dê através de associações de bairros, organizadas com o propósito de ajuntar o máximo de pessoas de dada comunidade e desenvolver atividades de conscientização política, mobilização reivindicatória, instalação de rádios comunitárias e construção de programas culturais estabelecidos segundo as necessidades e características da comunidade. Muitos chamam a essas iniciativas de ações de guerrilha cultural (ou ações de mídia tática)

Nem todo ato de resistência é um ato de guerrilha cultural, embora o seja de certo modo.

A guerrilha pede uma atitude nômade, uma ação impactante e furiosa, espanto e veemência, deslocamento re-significação. ‘Atitude’ entendida aqui não como uma aparência, uma embalagem personal comprável em qualquer loja descolada de shopping ou brechó, puramente estética, resultado da des-significação imposta pelo sistema. Falo de uma atitude apaixonada. Viço e fogo interior catapultados para o exterior em forma de ações. O poeta Ademir Assunção esclarece quando diz: “Não vai haver amor se não houver rebeldia”. A guerrilha cultural é rebelde, apaixonada, avessa a protocolos domesticalizadores. Onde está a subversão do grafitte quando o suporte que receberá essa manifestação é um espaço destinado para esse fim? Apropriação, contenção e des-significação: armas constantes da força de domínio. Guerrilha cultural e desobediência civil andam de mãos dadas. A conquista de espaços não-autorizados, como o espaço público, é o grito de rebeldia da guerrilha cultural artivista. A criação de zonas autônomas temporárias em meio ao caos da urbes equivale a detonação de uma bomba anti-capitalista no cerne de um dos espaços capitalistas de transição.

As interferências urbanas são legítimas ações de guerrilha cultural artivista. Quanto mais impactantes, intensas e nômades forem, mais próximas estarão da idéia de zona autônoma temporária. É claro que os substratos dessas interferências também são bem-vindos como documentos-mnemônicos da ação. Mas uma interferência urbana deve manter seu pico de atividade invariavelmente curto para melhor se relacionar com a transmutação de seu instrumental em paisagem, daí à cegueira coletiva e conseqüente desaparição.

Instalações, performances, cinema, dança, música, poesia, teatro, pintura, quadrinhos, essas e outras linguagens isoladas ou simultaneamente utilizadas podem resultar em extraordinárias ações de guerrilha cultural artivista.

Tenho uma pretensão, aqui: Produzir em tu que me lê o desejo de realizar coisas, interferências urbanas, gritos libertários, festas públicas, eventos, encenações, provocações que gerem o vórtex contaminador de uma zona autônoma temporária. Que todos se tornem guerrilheiros culturais artivistas.

Quem se propõe a ser guerrilheiro cultural artivista deve, necessariamente, se fazer as perguntas mais radicais relacionadas à suas indignações, necessidades e identidade. Deve perguntar aos limites do seu corpo, como instância última à ser conquistada. Deve saber o que grita e o que cala. Deve saber de si e procurar saber do outro, sem projetar suas crenças ou convicções, deve reconhecer o outro como ser único e tocável, atingível, possível à sua ação provocadora.

E, acima de tudo, deve-se achar a paz do próprio grito.

Alguns links relacionados:
http://www.lutherblissett.net/
http://provos.subversao.com/
http://www.adbusters.org/

Paulo Amoreira,
em palestra sobre guerrilha cultural e artivismo ministrada na UECE, por ocasião do evento ‘Fábrica – 5 Dias de Cultura Pop’, em 2002)

vertigem_www.tanomeio.com.br

I V


Caçador, nos barrancos, de rãs entardecidas,
Sombra-Boa entardece. Caminha sobre estratos
de um mar extinto. Caminha sobre as conchas
dos caracóis da terra. Certa vez encontrou uma
voz sem boca. Era uma voz pequena e azul. Não
tinha boca mesmo. "Sonora voz de uma concha",
ele disse. Sombra-Boa ainda ouve nestes lugares
conversamentos de gaivotas. E passam navios
caranguejeiros por ele, carregados de lodo.
Sombra-Boa tem hora que entra em pura
decomposição lírica: "Aromas de tomilhos dementam
cigarras." Conversava em Guató, em Português, e em
Pássaro.
Me disse em Língua-pássaro: "Anhumas premunem
mulheres grávidas, 3 dias antes do inturgescer".
Sombra-Boa ainda fala de suas descobertas:
"Borboletas de franjas amarelas são fascinadas
por dejectos." Foi sempre um ente abençoado a
garças. Nascera engrandecido de nadezas.

mundo pequeno, do livro das ignorãnças. manoel de barros

dorminhoco



Ah se viver fosse tão difícil
quanto inventar uma canção
viver seria quase impossível

Ah se viver fosse tão fácil
quanto pensar na melodia
Eu seria
cantor

Mas pra te ter fosse preciso
defrontasse um furacão
quem dera em ser invencivel

Mas se pra ter só o sorriso
eu prefiro para então
o amor que é dor

serotoninos e a música de metro/jason sho green_www.youyesyou.net

mua mua


descasco-me os dedos das manos e dos peis.
evaso.
troco de pele,depois de ataques de internidade.destruisson de coisa velha.
remanescencia de promiscuas restitulas.
novas manos,novos pies...novas patas pra agarrar quem quer.
-me.
e tudo o passar fez parte de uma neurvosidade de eu q queria mas ainda non podia,mas o tempo passaria sem q quisesse mais...
e se demoraste o principe morreria sentado no trono de dona maria,
sua madre,
sua senhoria,voz de cartanaz
cartaz feito por designer tenaz...
colante na aprede do teto do seu antebrasso,pra q se lmebrasse todo dia q non se podes ir,
sem saber como rir,
sozinho como todos...
mas principe ainda vez de rez,ja non es mais,depois q virou princesa
e o macho esculacho non bateu na bonda fazendo schulept!
wwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwww
wwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwww
wwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwww
wwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwww
suas cores foram despintadas,por momentos memorias apagadas...
seu desespero pra dentro era maior...pois uma veiz teria
medo de ser gente.
gente como qualquer gente q vai ao hospital e espera em fila rente...por horas a porta
de se deitar alocinado por medo de ter q ter...
e non ser.
passou.
inseto passou.
e dexou bonda de vaca no pasto ilesa.
as o-velhas pularam a cerca e dexaram vaca com as abelhas.
q conversavam sobre o destinatario do dol depois de amarelo seria preto como pinta de veia.
l=l=l=l=l=l=l=l=l=l=l=l=l=l=l=l=P=l=l=l=l=
u.............
....................................................................................................................................................................lou a cerca enton a vaca.
non por q traia.
mas por q queria chegar ao seu beim.
e entendeu q a nuvem q cobria a sombra de onde pularia non eras mal...
mas era alguem...
q mostrava o poim-poim de seu coice-pulativo,atingir alguem?
nuvem tava em cima...mas quem disse q vaca estava mesmo no chon de alguem?
ninguem.
q non faz beim.
eh beim vindo.
entonzes sarapuca-sarava fua-fua
sentir o corasson bater dentro,machuca alguem?
e cabessola q se sente assim,ton querente,e crias sua coisalia,
se desocupas de produzir beins?
perguntas demais pra quem ja fois gnomo,duende,fadinha,duente.
depois da onda de onde veins...
sempre volta mais forte.
voce mesmo.
seu beim.
fum
a
(com c---)s
(---cedilha,non eh fumassa expressa,q neim cafe gostoso de manhazinha)s
a
x
x
x
esqueci de tanta coisa e coiso.mas coisas e coisos non se esquecem de mim.
pinga ni mim!
sejas o q for tudo isso q non sei mas q afim...
ainda non eh o fim.

eu te quero pra mim.
sim.
poeta q no sabe mais o alfabeto de quem sabe alfabetar...
mas erradia sua verborreia...pois assim veio a ser,estar.
te tenho carinho indivisivel.
assim-assim

q fazes carinho carolin
da?
em cima do morrin?

muamua
veim soh de mouuuuuu-im.