terça-feira, 25 de outubro de 2011

imbecil



"A poesia está guardada nas palavras – é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as
insignificâncias ( do mundo e as nossas ).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco pra elogios".

Manoel de Barros




a proposito do video: #OcupaRio
via Edinardo Lucas


img: The Science os Sleep

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

esperança



"O que faz da esperança um prazer tão intenso é que o futuro, que está à nossa disposição, nos surge, ao mesmo tempo, sob uma imensidão de formas igualmente risonhas, igualmente possíveis. Ainda que a mais desejada se realize, é preciso sacrificar as outras, e teremos perdido muito. A ideia do futuro, prenhe de uma infinidade de possiveis, é, pois, mais fecunda do que o próprio futuro, e é por isso que há mais encanto na esperança do que na posse, no sonho do que na realidade."

Henri Bergson, Ensaio sobre os dados imediatos da consciência.

roubado do Saulo Nogueira Schwartzmann
(me lembrou rubem alves :)

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Do amor (3)


Que é que eu penso do amor? — Em suma não penso nada. Bem que eu gostaria de saber o que é, mas estando do lado de dentro, eu o vejo em existência, não em essência. O que quero conhecer - o amor - é exatamente a matéria que uso para falar - o discurso amoroso. A reflexão me é certamente permitida, mas essa reflexão é logo incluída na sucessão das imagens, ela não se torna nunca reflexividade: excluído da lógica - que supõe linguagens exteriores umas as outras - não posso pretender pensar bem. Do mesmo modo, mesmo que eu discorresse sobre o amor durante um ano, só poderia esperar pegar o conceito "pelo rabo": por flashes, fórmulas, surpresas de expressão, dispersos pelo grande escoamento do Imaginário. Estou no mau lugar do amor, que é seu lugar iluminado: 'O lugar mais sombrio...' - diz um provérbio chinês - 'é sempre embaixo da lâmpada.'

Barthes, em Fragmentos de um Discurso Amoroso