quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

dessignificancias


para fernando pessoa, amem.

tenho muito a dizer a você, mas nada disso significa. que hoje, enfim, percebi que temos dizeres muito alheios um ao outro e que nossas sílabas não se encontram e não se unem nem hoje nem sempre. mesmo que as idéias continuem as mesmas e eu saiba profundamente que nos seus olhos esteja escrito tudo o que eu gostaria de dizer. nem assin. que tu não me mostras as letras enterradas nas suas retinas. além das palavras por vezes contrangidas que trocamos no corredor da biblioteca, na hora mesma que desejo verte e tu apareces com a tua cara, nada de luminoso. penso que foges de mim, mas te busco e te encontro entao dentro do meu desejo. diria assin, com temida superioridade: te conheço como ninguém, porque sei da sua fraqueza. mas realizo que tu não vês porque sabes que doeria. e sei que não gosta dessas dolores. então silencia. e seu silêncio para mim é um náufrago. onde me deleito e me encerro no não que mostra e no sim que aparenta. não dizes nada. e seu silêncio deixame suspensa. a casa caiu e há escombros dela. ainda assin, vejo alguém pendurado na escada. balançate mórbido, escorregadio, os olhos caídos. passo assin à sua volta e, repentinamente, mas sem surpresas, olho pra voce e é o meu rosto que vejo. talvez o coração antes arrancado do peito, mas sem sangue. e na barriga o seu filho morto. todo o cuidado e amor e espera sistematicamente sugados por esse ente que acho até que sejas tu, mas que desejo muito mesmo que esteja apenas ocupandote temporariamente a cabeça. mas escrevo e sintome igualmente fraca. que tudo isso que sai de mim são sentimentalidades que me sufocam e me completam de uma forma que não significo. dentro dessa escuridão há todas as letras, fragmentos de doces dizeres e repetidas declarações. que ouves e calas. diante da escuridão que invoco, não imaginavas como? também não saberia dizer nada se em mim todas as sílabas estivessem cortadas.

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