terça-feira, 20 de outubro de 2009

Necessidade de produzir para não me sentir tão apagado. Tristíssimo, tão irrealizado. Eu me prometi as rédeas do mundo. Por longos instantes de uma curta história eu me apegara em promessas ricas a meu respeito, supondo quais seriam minhas contribuições futuras e de que modo o meu respeitável público – todo o mundo, todo ele – reconheceria meu valor inestimável.
Uma forma pouco comum de confiança me guiava no escuro. Não que eu não sentisse medo... Sentia dolorosamente, mas até o medo se tornava parte da minha odisséia. Tudo era absorvido, conseqüentemente suportado, numa andança em círculos, justificada por uma apatia ora chamada de serenidade, ora de sapiência. Não há pecado algum nas pretensões. Sobretudo na infância, quando ainda não somos nada. O que ocorre é que ao contrário dos dentes de leite, elas não se vão com o passar do tempo. Elas perduram por toda vida e, a partir de um dado momento, tornam-se referenciais do que eu não fui. São e serão tormentas.

e.m.
Em quatro dias eu estaria seco. E seria um retorno, na realidade. Por que no primeiro, fui pego de calças curtas. Me puxaram pelas canelas pra eu ficar de pontacabeça. Mas é como fazem com as galinhas após o abate. Elas, se soubessem como é difícil administrar todo o sangue na esfera do crânio ainda vivo, duvido que fariam tanto escândalo. Mais fácil é deixar-se ser decepado e dar vazão ao vermelhoespesso. No segundo, tentei colocar tudo em ordem, ainda que continuasse pendurado pelas pernas. Até escolher a Ordem que mais me convinha, perdi um certo tempo. Daí, passei a fazer uso das mãos, ouvidos e até dos olhos apesar de tanto desconfiar deles. As narinas não pude usar, por que elas logo se revelaram um duto rigoroso. Pelas minhas narinas eu me coloquei do lado de fora. Esparramei-me pela terra úmida tornando-a um tanto mais germinável. Que espécie vegetal nascerá dali? Com o terceiro dia, quis acreditar que eu podia muito. Um pêndulo tem toda a liberdade desse mundo, dentro dos limites que a corda e ar dão... Eu me arrisquei um pouco. Balancei. Senti o vento. O impulso, evidente, vinha de meu abdômen, que como uma usina, agia dando movimento aos fluidos de meu corpo. Mais sangue pelas narinas. Amanheceu. Eu quis ser original. Mas estou indisposto. Pois não fui sendo ressecado nos últimos dias?

e.m.

fragmento

tenho lido algumas primeiras páginas de grandes clássicos que compro e assento na prateleira. veja bem, eu os compro.
tenho pretendido assistir alguns títulos bastante instigantes do cinema oriental. quase sinto saudades da família. consigo tecer grandes e eloqüentes diálogos, com curto prazo de validade.
uma sucessão de metades é a minha rotina, o que não é necessariamente dramático. A não ser pelo fato de eu acabar conhecendo - sempre e apenas - os primeiros atos, os primeiros tempos, a primeira idade das coisas e dos homens.
pudesse olhar de perto os desfechos, tateá-los, prová-los, excecrá-los, degluti-los, talvez desenvolvesse um senso geométrico mais refinado ou mesmo se revelaria em mim uma vocação vibrante para a culinária, para o automobilismo.
mas ao que tudo indica, não será assim. parece que preciso é me acomodar na margem de cá e tentar fisgar no ar os contornos revelados pelos ecos de meu próprio grito.

e.m.

sábado, 3 de outubro de 2009

meh



múm, islandia