segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Walking Around


Sucede que me canso de ser hombre.
Sucede que entro en las sastrerías y en los cines
marchito, impenetrable, como un cisne de fieltro
Navegando en un agua de origen y ceniza.

El olor de las peluquerías me hace llorar a gritos.
Sólo quiero un descanso de piedras o de lana,
sólo quiero no ver establecimientos ni jardines,
ni mercaderías, ni anteojos, ni ascensores.

Sucede que me canso de mis pies y mis uñas
y mi pelo y mi sombra.
Sucede que me canso de ser hombre.

Sin embargo sería delicioso
asustar a un notario con un lirio cortado
o dar muerte a una monja con un golpe de oreja.
Sería bello
ir por las calles con un cuchillo verde
y dando gritos hasta morir de frío

No quiero seguir siendo raíz en las tinieblas,
vacilante, extendido, tiritando de sueño,
hacia abajo, en las tapias mojadas de la tierra,
absorbiendo y pensando, comiendo cada día.

No quiero para mí tantas desgracias.
No quiero continuar de raíz y de tumba,
de subterráneo solo, de bodega con muertos
ateridos, muriéndome de pena.

Por eso el día lunes arde como el petróleo
cuando me ve llegar con mi cara de cárcel,
y aúlla en su transcurso como una rueda herida,
y da pasos de sangre caliente hacia la noche.

Y me empuja a ciertos rincones, a ciertas casas húmedas,
a hospitales donde los huesos salen por la ventana,
a ciertas zapaterías con olor a vinagre,
a calles espantosas como grietas.

Hay pájaros de color de azufre y horribles intestinos
colgando de las puertas de las casas que odio,
hay dentaduras olvidadas en una cafetera,
hay espejos
que debieran haber llorado de vergüenza y espanto,
hay paraguas en todas partes, y venenos, y ombligos.
Yo paseo con calma, con ojos, con zapatos,
con furia, con olvido,
paso, cruzo oficinas y tiendas de ortopedia,
y patios donde hay ropas colgadas de un alambre:
calzoncillos, toallas y camisas que lloran
lentas lágrimas sucias.


Pablo




Acontece que me canso de ser homem.
Acontece que entro nas alfaiatarias e nos cinemas
abatido, impenetrável, como um cisne de feltro
vogando numa água de orizem e de cinza.

O cheiro das barbearias faz-me gritar em lágrimas.
Eu só quero um descanso de pedras ou de lã,
eu só quero não ver as lojas e os jardins,
mercadorias, óculos, ascensores.

Acontece que me canso destes pés, destas unhas,
e do cabelo e da sombra.
Acontece que me canso de ser homem.

E no entanto seria delicioso
assustar um notário com um livro cortado
ou dar morte a uma freira com um soco no ouvido.
Seria lindo
ir pela rua com uma faca verde
e aos gritos até morrer de frio.

Não quero continuar a ser raiz nas trevas,
vacilante, estendido, tiritando de sono,
para baixo, nas tripas molhadas da terra,
absorvendo e pensando, comendo dia após dia.

Não quero para mim tanta desgraça.
Não quero continuar raiz e sepultura,
subterrâneo solitário e adega com mortos,
transido, morrendo de desgosto.

Por isso a segunda feira arde como o petróleo
quando me vê chegar com esta cara de cárcere
e uiva no seu decurso como roda ferida,
e dá passos de sangue quente em direcção à noite.

E empurra-me para certos cantos, certas casas húmidas
para os hospitais onde os ossos saem pela janela,
para certas sapatarias que cheiram a vinagre,
para ruas espantosas como fendas.

Há pássaros cor de enxofre com horríveis intestinos
pendentes da entrada das casas que eu odeio,
há dentaduras esquecidas numa cafeteira,
há espelhos
que deviam ter chorado de vergonha e de espanto,
há guarda chuvas em todo o lado, e veneno, e umbigos.

Eu passeio com calma, com olhos, com sapatos,
com fúria, com esquecimento,
passo, atravesso escritórios e centros ortopédicos,
e pátios onde há roupa a secar num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sujas.


(tradução de Fernando Assis Pacheco)

2 comentários:

  1. Que linda forma de expressar o cansaço que estes poetas têm, não?!? Quisera eu fazer versos assim, mas meu cansaço se resume ao um pessimismo sentimental expresso em lamentos virtuais... ou no compadecer de um copo de cerveja (que daí é mais divertido!)

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  2. penso que eles cantam uma canseira existencial.. uma canseira da vida inteira, sabe. a canseira dos dias eles deveriam beber nuns goles também. pablo tem cara de ter bebido muito vinho...... :))

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