domingo, 7 de fevereiro de 2010

Yankel D


talvez eu-inteira incomode voce. quase tudo o que eu digo e faço. voce descobriu tao rapido os meus defeitos, voce os joga todos nas minhas maos e não sei o que fazer. talvez seja hora de eu-inteira ir embora para sempre. não basta que eu goste de voce ao longo de todos os dias e desde sempre. não basta que pense e sonhe com voce. é tudo irreal. nao bastaram todas as vezes que eu perdoei voce pelos erros que voce nao cometeu. todas as vezes que andei pela rua sem coração, o vento soprando dentro de mim. tudo o que eu sinto é exagero e ilusao. está tudo dentro de mim e talvez nos meus olhos. nao bastaram os dias em que tudo se perdeu. sequer quando outras pessoas surgiram sorrindo, mas nao eram voce. e quando outras pessoas surgiram ao seu lado, nao eram eu. sempre foram outras pessoas. olho para voce e te vejo partindo. nao vejo os seus olhos. apenas o seu pensamento buscando sempre tudo o que nao esta aqui. tudo o que não consigo ser. olho para voce e voce está de costas. olho para mim e estou sozinha. no meio de pessoas estranhas que não me conhecem. estou hoje no deserto. na minha cabeça não há mais ideias, apenas ressentimentos. eu gostaria de continuar adorando voce-inteiro, mas sem voce perceber. o seu cabelo e as suas maos. todas as coisas que saem das suas maos e da sua boca. o seu pensamento. os seus segredos. principalmente eu gostaria de guardar os seus segredos, mas sem conhece-los. nao tenho força para conhece-los. seus olhos também estao dentro de mim e vou adora-los para sempre, ainda que nao me vejam. todas as suas historias, a sua vida-inteira, cada segundo. meu amor te abraça inteiro e diz que é hora de partir. para um lugar muito distante onde nao te encontre nem te procure. longe de todos os lugares onde voce esteve comigo, em dias remotos dos quais nao me lembro. longe do seu perfume, que esta guardado em um papel dentro da minha carteira. devo jogar fora este papel e tambem a minha carteira. estarei em um lugar onde ninguem saiba que o mundo inteiro deixa de existir quando voce passa a mao no meu cabelo e beija a minha testa. talvez eu tenha sido muito dura, a minha poesia esta tao escondida que nem mesmo eu sei onde guardei. talvez nem haja poesia.



'Acordava toda manhã com o desejo de agir corretamente, de ser uma pessoa boa e significativa, de ser, por mais simples que isso pudesse parecer e impossível que fosse na realidade, feliz. E ao longo de cada dia o seu coração afundava, do peito para o estômago. No começo da tarde ele tinha a sensação de que nada estava certo, ou de que nada era certo para ele, e sentia o desejo de ficar sozinho. À noite ele se realizava: sozinho na magnitude de seu pesar, sozinho com sua culpa, difusa, sozinho até na sua solidão. Não estou triste, repetia ele sem parar, Não estou triste. Como se um dia pudesse se convencer disso. Ou se enganar. Ou convencer os outros – a única coisa pior do que ficar triste é deixar os outros saberem que você está triste. Não estou triste. Não estou triste. Pois sua vida tinha um potencial ilimitado para a felicidade, exatamente por ser um aposentado branco e vazio. Ele adormecia com o coração ao pé da cama, feito um animal domesticado que não fazia parte dele. E a cada manha acordava com o coração engaiolado novamente nas costelas, um pouco mais pesado, um pouco mais fraco, mas ainda bombeando. E lá pelo meio da tarde sentia novamente o desejo de estar em outro lugar, de ser outra pessoa, de ser outra pessoa que estivesse em outro lugar. Não estou triste'.

Yankel D*



* Trecho da obra 'Tudo se ilumina', de Jonathan Safran Foer. RJ, Rocco, 2005. Tradução de Paulo Reis e Sérgio Moraes Rego.


Img: Hebert Baglione

Um comentário:

  1. Valeeeeeeeeeeeeeu garota. Já arrumei o link lá da última postagem, graças a você. Ein, me passa o teu endereço, se você quiser, pra gente te mandar o presente! medoedelirio@hotmail.com :)))) beijocas no cerebelo.

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