quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O enterro do virus

Certos dias
precisamos enterrar pessoas
não aquelas que não respiram
mas as outras
aquelas que sabem o que sentimos
e nem por isso deixam de viver

Certos dias
precisamos empunhar uma pá
cavar feitos loucos
abrir sepulturas sem descanso
jogar corpos e socar com os pés
dançando sobre a terra

Certas noites
precisamos dizer mais que um adeus
precisamos ser maus
e enterrar a causa da dor
mesmo sendo a da imagem amada

Certas noites
devemos revirar o inferno
procurar uma loção purificadora
o ungüento para transformar
a atração em repulsa
o ideal em desleal
o sonho em tormento
a ilusão em verdade

Certos noites
devemos desprezar
os príncipios do amor
realizar a autópsia do supremo
da maneira mais fria
arrancar os dentes do imaginário
e esmagar os olhos da esperança

Nessas noites
as sombras não devem ser respeitadas
e a imagem imediata
aquela que se esfrega no rosto da realidade
é a única que merece respeito

Nesses dias
devemos acalentar
os próprios vermes
depois que o vírus foi disseminado
a morte se torna a fúria do fogo
ausência de algo que não conhecemos
e que nunca nos deixará em paz.


Marcos Losnak

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