sexta-feira, 23 de maio de 2008

.turbulências.


.ando abrindo portas. a maioria nem sabia que estavam lá. num meio de texto me vejo tocando trinco. girando chave. adentrando.

.[mentira. nem sempre entro. às vezes fico na soleira. a cara acesa com medo de mergulhar no escuro do aposento].

.entrar significa entregar-se ao súbito alheiamento. à deriva bendita que pinica epifanias. entrar também significa desembaçar espelhos. onde um outro devolve assombro e olhar. às vezes há conversa - ou tentativa de conversa - com esse outro. esfacelamento de muros e poda de espinhais. mas na maioria dos confrontos/encontros é um mútuo mudo espanto.

.queria poder levar alguém comigo quando passasse pela próxima porta. alguém que não se importasse de me ver extremo e abismo. quem pudesse me segurar a mão e dizer baixinho "sem pressa. já saberemos". ou que estivesse apenas do lado e olhasse como quem diz "também estou vendo".

.tenho aberto portas pesadas. paquidérmicas. emperdenidas. portas sufoco sem paz. tenho aberto portas transparentes e transpassáveis. vaporosas. inefáveis. portas fuga de esquecimento. e tenho aberto portas nebulosas. opacas. imperscrutáveis. portas silêncios nervais.

.agora mesmo - enquanto te digo isso - estou passando por uma. entrando fundo no mundo de penumbra que um arco esmaecido guardava e cumpria. preciso de ajuda aqui. não consigo enxergar.

.me empresta teu olhar?.


paulo amoreira: http://exlibris.zip.net/


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