sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

" Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces,
estendendo-me os braços, e seguros
de que seria bom que eu os ouvisse
quando me dizem: "Vem por aqui"
Eu olho-os com olhos lassos
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços.
E nunca vou por ali (...)
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos (...)
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada. (...)
Ide! Tendes estradas
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho minha loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios (...)
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
Sei que não vou por aí! "

José Régio

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