terça-feira, 25 de maio de 2010

A Floresta do Alheiamento

“Escrevo, porque este é o fim, o requinte supremo, o requinte temperamentalmente illogico, (...) da minha cultura de estados da alma. Se pego numa sensação minha e a desfio até poder com ella tecer-lhe a realidade interior a que eu chamo ou A Floresta do Alheiamento, ou a Viagem Nunca Feita, acreditae que o faço não para que a prosa soe lucida e tremula, ou mesmo para que eu gose com a prosa – ainda que mais isso quero, mais esse requinte final ajunto, como um cahir bello de panno sobre os meus scenarios sonhados – mas para que dê completa exterioridade ao que é interior, para que assim realise o irrealisavel, conjugue o contrdictorio e, tornando o sonho exterior, lhe dê o seu maximo poder de puro sonho, estagnador de vida que sou, burilador de inexactidões, pagem doente da minha alma Rainha, lendo-lhe ao crepusculo não os poemas que estão no livro, aberto sobre os meus joelhos, da minha Vida, mas os poemas que vou construindo e fingindo que leio, e elle fingindo que ouve, emquanto a Tarde, lá fora não sei como ou onde, dulcifica sobre esta metaphora erguida dentro de mim em Realidade Absoluta a luz tenue e ultima d’um mysterioso dia espiritual.”

Educação sentimental.(?)
Bernardo Soares

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