quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Adoração Noturna

É como um olhar,
como um olhar imóvel.
Beijam-me quando assim me tomas,
admirados
de que não repila a comiseração:
'não é a que tem desejos e sandálias?'
Vossos pés me ocupam, vossos dedos
cuja perfeição esgota a eternidade.
Quem mais adora quando me arrebatas?
Meus sapatos são vossos,
de ouro,
iguais são nossos joelhos,
as rótulas sobre as quais
- eu, ou vós? - descansamos as mãos.
Necessária como Deus,
coberta de meus pecados resplandeço.

por Adélia Prado

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